@Foto de Nuno Estrela
Estava um dia de chuva muito parecido com o dia de hoje. Eu tinha sido promovida há pouco tempo, e sentia-me quase, quase…. ALGUÉM na minha firma.
Sim que isto de passar a «CHEFE» tem que se lhe diga.
A minha primeira equipa de trabalho era diminuta, mas muito agradável, tinha um colega/amigo com quem eu me dava muito bem com uma vertente acentuada de «Grande Amiga», o mesmo será dizer um homossexual não assumido e um outro acabadinho de chegar à Empresa.
Por outro lado o meu primeiro cliente em que assumiria o papel de CHEFE (como responsável de campo) era também uma simpatia. Um cliente que eu sempre fiz e por isso sentia-me q.b. à vontade e era conhecedora dos cantos à casa!
Isso só fazia com que o meu EGO estivesse do tamanho da tempestade que nesse dia se tinha abatido sobre Lisboa e olhem que era daquelas de fazer com que as tampas dos «bueiros» e «esgotos» saltassem provocando esfusiantes repuxos pela cidade de Lisboa.
Ainda hoje invejo a qualidade de vida das pessoas que trabalhavam nesse empresa (se bem que uns anos mais tarde em prol de fusões/cisões tudo mudou).
O Director Financeiro o meu contacto privilegiado chegava às 10.30H, ia ao seu gabinete, depois passava pela contabilidade e a seguir pela sala onde nos encontrávamos e dizia:
- Doutora vamos ao cafezinho???!!
E lá íamos nós todos ao cafezinho, que demorava invariavelmente meia hora a 45 minutos. Ou seja 11.00H ele estava a trabalhar, às 12.30H a sair para o almoço, às 14.30 regressava, mais conversa aqui, conversa ali e às 17.15H estava a passar pela nossa sala e dizia:
-Doutora então até amanhã!!!
Nos primeiros tempos ficava de rasto com aqueles horários e roía-me de inveja!!
Havia outra figura fascinante, o «Chefe da Contabilidade». Um senhor já idoso, que não queria nada com os computadores, que tinha tudo recalculado em livros não fosse o «Diabo tecê-las e a Luz falhar!!!».
Confesso que muitas vezes me deu vontade de gargalhar em frente ao senhor, mas quando ele me esclarecia qualquer dúvida naqueles livros escritos com uma letra desenhada de caneta de aparo, o meu «gargalhar» depressa passou a estupefacção e admiração!!!
Acho que nunca tinha apreciado aquela letra artisticamente desenhada a não ser em museus e livros antigos e muito menos tinha tido a oportunidade de ver tantas canetas de «aparo».
Naquele dia invariavelmente o Director Financeiro passou pela nossa sala e disse:
- Doutora vamos ao cafezinho???
Respondi-lhe «- Claro». À nossa espera estava também o Director Geral e com isso o meu EGO aumentou um pouco mais, quase que flutuava!!!
Ia a sair quando reparei que chovia torrencialmente, por isso pedi ao meu colega que apanhasse os nossos guarda-chuvas.
A Empresa ficava perto do Largo do Rato e o café ali muito perto,.. o passeio era calçada portuguesa (que novidade!!!), a estrada daqueles cubos grandes e pretos de calçada e eu muito aprumadinha num fato de saia e casaco, meia preta, saltos altos…
Lembro-me de pensar…«-uiiii que isto está bom para as quedas».
Depois não me lembro de muito mais para além de «patinar», tropeçar no meu guarda-chuva (tinha parado de chover), da sensação da mão do meu colega e pensar que ele me ia agarrar e depois…depois estava de gatas no meio da estrada!!!
Ali estava eu com 4 homens a tentarem-me levantar, muito preocupados, um deles o meu colega (e amigo!!!!) não parava de rir… e eu apetecia-me desatar a chorar porque os joelhos doíam-me muito!
Mas o pior é que nem depois da queda consegui ficar aprumadinha, tipo «Já passou, só 4 é que viram a minha VERGONHA!! Eu a chefe de «gatas» no meio da rua!!!»
O meu fato era escuro e estava cheia de lama e as minhas meias pretas tinha 2 buracos enormes nos joelhos e sangravam um pouco! Ainda tive que dar explicações a algumas pessoas no café a maioria conhecidos do Director Financeiro e do Director Geral!!!
Voltei à Empresa e pensei agora vou conseguir me compor, vou à casa de banho limpo as feridas, tiro as meias (antes passar frio que passar vergonha!!!) e fim desta história!!!
Mas comigo nada é assim tão simples, depois de estar «aprumadinha» apareceu um senhor que no meio de um «open-space» cheio de pessoas gritou:
-Doutora, Doutora mandaram-me vir-lhe entregar esta pomadinha para as suas feridas. Fui buscar ao nosso stock!!!
Corei um pouco e disse:
- Mas isso não me fará mal???!!
Ao que ele retorquiu quase indignado:
-Nãaaa Doutora, se cura cavalos, também vai curar a Senhora!!!
A Empresa era de produtos veterinários.
@ com os melhores cumprimentos a vossa (salvo seja) Princesa Virtual