«Aos 8 anos de idade, na Índia dos anos 30, Chuyia não é apenas casada; é já viúva. E nunca conheceu o marido. De acordo com a tradição, Chuyia é enviada para uma casa que acolhe viúvas – uma casa onde as viúvas são obrigadas a ficar, isoladas da sociedade, até ao final das suas vidas, sem que possam alguma vez voltar a casar.
Lá, conhece Kalyani, uma bela e jovem viúva de quem se torna amiga que ousa desafiar as regras apaixonando-se por um jovem com estudos. Também ele está disposto a confrontar-se com a tradição instituída. No momento em que as ideologias de Ghandi ganham cada vez mais peso e as pessoas se começam a questionar sobre a religião, sobre a sociedade, sobre os direitos das mulheres, estas duas jovens (assim como tantas outras mulheres) poderão ver os seus percursos de vida alterarem-se radicalmente.»
Lá, conhece Kalyani, uma bela e jovem viúva de quem se torna amiga que ousa desafiar as regras apaixonando-se por um jovem com estudos. Também ele está disposto a confrontar-se com a tradição instituída. No momento em que as ideologias de Ghandi ganham cada vez mais peso e as pessoas se começam a questionar sobre a religião, sobre a sociedade, sobre os direitos das mulheres, estas duas jovens (assim como tantas outras mulheres) poderão ver os seus percursos de vida alterarem-se radicalmente.»
Este é o argumento do filme «Água» de Deepa Mehta… e também o meu «post» do dia Internacional das mulheres.
Este filme passa-se em 1938,na India Colonial, onde os poderosos (britânicos e indianos) vêem a ascensão de Gandhi, com suas ideias de liberdade e de mudança das tradições. As viúvas já não são forçadas a imolarem-se na pira fúnebre, com a morte do marido, mas ainda tinham que pagar, vivendo em total ostracismo e miséria, por toda vida.
Confesso que fiquei bastante impressionada com o filme, mas considero que vale a pena, nem que seja por mexer com a nossa consciência e levar-nos a um passado, que pouco difere do presente.
As viúvas na Índia, são reconhecidas por vestir um sari de cor branca. Geralmente não lhes é permitido voltar a casar e sua posição social é difícil e um tanto ambígua; contudo, actualmente já não se vêem obrigadas a cumprir um dos costumes mais incríveis desse país (proibido no século passado pelos ingleses), o ritual Sati ou imolação na pira funerária das viúvas junto ao cadáver de seu marido. A origem deste costume encontra-se no antigo mito baseado na concepção religiosa da virtude unitária dos opostos e relacionada com Sati, primeira esposa do deus Shiva, que se teria suicidado no fogo por não resistir à separação do mesmo, imposta por seu pai através de mentiras.
A partir de então, o impulso de não poder resistir à separação do marido seria bem vista pela sociedade e a culminação deste adquiriria tons dramáticos depois da morte daquele, pelo que, atirar-se às chamas e morrer junto com o marido era assim o destino da esposa.
Fiz algumas investigações na net sobre este tema e descobri que segundo o censo de 1991, 8% de todas as mulheres da Índia são viúvas, o que significava aproximadamente cerca de 34 milhões de pessoas. Como o costume é o casamento das meninas muito novinhas, 50% das viúvas têm menos de 50 anos de idade.
No grupo acima de 60 anos, 64% das mulheres são viúvas, enquanto que apenas 6% dos homens são viúvos. Essa diferença brutal de género existe por causa da alta incidência de viúvos que se casam novamente, enquanto que um novo casamento, na prática (se bem que possível), continua sendo uma opção bastante improvável para as mulheres.
Sabe-se muito pouco sobre estas mulheres da Índia, a marginalização torna-as invisíveis. O que se sabe é que elas vivem num estado de miséria e pobreza, sem emprego, sem acesso a qualquer outro meio de sobrevivências, sem acesso a educação e sofrendo face ás tradições da cultura indiana.
Apesar de em 1956, um lei hindu estabelecer que as viúvas devem ser consideradas iguais a todas as mulheres.
Face a todas estas condições as viúvas têm um índice de mortalidade 85% superior às mulheres casadas. Apesar das condições deploráveis dessas «Casas de Viúvas», muitas delas preferem viver nelas do que ficar com a família do ex-marido, sendo constantemente abusadas sexual e fisicamente.
As Casas de Viúvas são empreendimentos «corruptíveis», existem denúncias ( e isso é explorado no filme) de que, apesar das mulheres viverem em completa miséria, os «donos» fazem muito dinheiro, pedindo ajuda financeira e vendendo muitas vezes serviços sexuais das jovens viúvas, valendo tudo !!! Ou seja uma mulher na Índia ainda nos dias de hoje, sem um homem ao seu lado, não tem o respeito da sociedade Indiana e continua a ser tratada como um ser humano de 2ª (ou 3ª) categoria!!!
Aconselho vivamente que vejam este filme :) «Água»… afinal ontem foi o dia Internacional das Mulheres…
sinto-me: