
-Está com medo?
-Confesso que estou um bocado preocupada…
-Ora não fique assim Princesa, já é uma Princesa crescida…
-Ahhh pois, mas sinto-me uma criança, apetece-me sair daqui a correr.
-Ora essa pq?! (enquanto isso ia retirando compressas, agulhas, seringas, Coisas- estranhas-e-afins-muito-pontiagudas, que não conseguia identificar, de invólucros).
- Estou apreensiva…a viver intensamente por antecipação…
-Ahhh vamos já tratar disso…
-Estou em pânico, quando vejo sangue fico mal disposta, e apesar de ser uma pequena cirurgia…é estranho…
-Ahhhhh estranho é!!!! Mas não se preocupe, não disse à pouco que tinha feito a operação à vesícula e que lhe fizeram 3 buraquinhos na barriga??? Eu vou-lhe fazer 3 buraquinhos no crânio. ( A conversa ainda se prolongou por uma dissertação de pessoas com tensão baixa, batimentos de coração, desmaios etc etc…)
-……. (o meu silêncio e a minha cara de pânico, deve ter revelado o quanto aprecio em situações de stress, o humor negro dos médicos!!!)
-Estava a brincar, vá deite-se aqui na maca…mas olhe tire a blusa…
- Tiro a blusa???!!!
-Sim que isto geralmente deita um bocado de sangue…e não queremos, que suje a blusa.
-…… (silêncio - enquanto tirava a blusa pensei…isto deve ser humor negro «again», então ainda há pouco lhe disse que ficava mal disposta com sangue!!!)
Anestesia, pica aqui, pica ali…conversa circunstancial, algumas interpelações minhas em como devia ter trazido uns tampões para os ouvidos, mais humor negro…e enquanto isso estava a transpirar que nem uma louca, estando literalmente colada à maca, tal era o pânico que sentia! A determinada altura senti que algo estranho estava no meu nariz…
-Doutor, eu acho que tenho sangue a pingar na ponta do meu nariz…
-Tem?!! Olhe, finja que está numa praia e que isso são gotas de água… deixe ver, finja que acabou de sair da água agora…Não se preocupe que esse sangue não lhe faz falta nenhuma!!!
-……….(silêncio - Inspirei longamente enquanto mexia os pézinhos de apreensão…)
Por fim resolvi relaxar, não tinhas grandes hipóteses, aquela velha «se não podes lutar contra eles, só te resta juntar a eles» estava a passar em rodapé. Por isso só me restou apreciar o momento e pensar que aquilo era perfeitamente normal. Que ter sangue na ponta do nariz era o meu dia a dia, que sentir alguém a tentar arrancar parte do meu cérebro também era, que sentir que era um pedaço de macramé (para quem não sabe é aqueles paninhos para bordar) e que alguém a fazer ponto de cruz na minha «tola» era a coisa mais banal do mundo!!!
Não sei como, mas consegui!!!!! E mesmo nessa situação «lastimável» consegui gracejar e rir…
Às vezes consigo exceder-me a mim própria e surpreender-me…Nestas pequenas coisas chego à conclusão que os nossos limites são de facto um mistério e apenas quando somos forçados a testá-los os conseguimos descobrir…
@Um resto de boa semana para todos são os desejos da vossa (salvo seja) Princesa Virtual
(PS ahhhh e para além de uma dor de cabeça estou bem!!!)